Afirmação é da psicóloga e doula Juliana Mogrão, durante o 1º Simpósio Laço Branco – homens pelo fim da violência contra a mulher
Cerca de 170 pessoas participaram do 1º Simpósio Laço Branco – homens pelo fim da violência contra a mulher, na manhã desta terça-feira (12), na subsede da OAB São José do Rio Preto. Na plateia, estavam profissionais e universitários das áreas de serviço social, psicologia e direito de municípios da Região Metropolitana e de outros municípios paulistas. O evento, inédito na cidade, foi promovido pela Secretaria da Mulher, Pessoa com Deficiência e Igualdade Racial, em parceria com o Grupo MAN (Masculinidade Ampliando a Natureza), as Diretorias Regionais de Assistência e Desenvolvimento Social (Drads) Rio Preto e Fernandópolis e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Rio Preto.
Após a cerimônia de abertura, as boas-vindas ficaram por conta do professor Sérgio Barbosa, cofundador da Campanha Laço Branco no Brasil, que fez a participação on-line. Em sua fala, defendeu que é preciso descontruir o machismo em cada um dos homens, com risco de “continuarmos reproduzindo a violência”. Barbosa também afirmou que o Poder Judiciário precisa estar em sintonia com grupos reflexivos para homens acusados de agressão. “A Campanha Laço Branco tem esse propósito de discutir como superar esse machismo estrutural”.
Na sequência, a promotora titular da Vara da Violência Doméstica e Familiar de São José do Rio Preto, Heloísa Gaspar Martins Tavares, mostrou os efeitos do machismo estrutural e os desafios no enfrentamento à violência contra as mulheres. “A mulher ainda sofre muita discriminação em relação à sua palavra e muito julgamento em relação ao seu comportamento”, afirmou aos presentes.
O juiz titular da Vara da Violência Doméstica, Alceu Corrêa Júnior, mostrou, por meio de estatísticas, que homens agressores inseridos em programas de recuperação e reeducação têm índice de reincidência quase nulo. “Se a gente não incorporar o homem nessa luta, os resultados tendem a ser significativamente menores ou frustrantes. A grande maioria dos homens que participa dos programas de reeducação nunca mais se envolve em casos de violência contra mulher. Acho que é isso que a sociedade espera, recuperar esse agressor.”
Entre as explanações, foram exibidos três depoimentos de homens acusados de agressão e que participaram das reuniões do Grupo MAN, que trabalha com homens acusados de agressão em processos que tramitam pela Vara da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.
Trabalho reprodutivo
A assistente social Mariana Reis, do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, trouxe dados estatísticos para discutir a importância do trabalho reprodutivo doméstico e do cuidado e de como a invisibilização dessas tarefas acarreta relações de opressão generificadas e racializadas e que culminam em violência doméstica. “Quando pensamos em trabalho reprodutivo, focamos no âmbito doméstico e do cuidado. É um trabalho delegado a mulheres, principalmente mulheres negras. Então, problematizar o trabalho reprodutivo é problematizar a violência doméstica, pois quem cuida não comete violência.” Citando o Think Olga, Mariana mostrou que uma mulher que amamenta gasta, em média, 650 horas de trabalho em seis meses com essa tarefa.
A psicóloga e doula Juliana Mogrão reforçou a importância de a mudança começar dentro das casas, nas relações domésticas, e da necessidade de desconstruir estereótipos ligados ao gênero.
“No próximo chá revelação, reveja seu comportamento em relação àquela criança que virá ao mundo. Temos de começar a falar sem pudor sobre violência, machismo, patriarcado e de como se defender. Buscar informações sobre direitos e deveres e, principalmente, ensinar nossos meninos e meninas.”
A palestrante chamou a atenção ainda para o impacto da violência doméstica na vida de mulheres negras. “As mulheres negras ainda são as maiores vítimas de todas as violências. É importante que a gente tire a venda dos olhos e enxergue essa realidade, porque só a gente vai poder mudá-la.
Bianca Zaniratto/SMCS – REDAÇÃO ENTRECIDADES