Com mais de 80 processos na Justiça, entre os quais pelo menos um de estelionato, médico de Catanduva quer ser prefeito de Urupês
O Ministério Público denunciou Roberto Cacciari Filho por atestado médico falso. Aos 38 anos, ele tem mais de 80 processos na Justiça e já se envolveu em muitas polêmicas, tendo sido acusado por um produtor rural de Novo Horizonte de dar calote de mais de R$ 83 mil.
Além disso, o médico de Catanduva, que foi derrotado nas urnas em 2022 para deputado federal e tem fortuna declarada de mais de R$ 7,1 milhões, também foi acusado de violência contra mulher, tendo a vítima pedido medida protetiva de urgência contra ele. Na folha de antecedentes criminais do médico há processos em Itajobi, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto.
Beto Cacciari, que mora no Quinta do Golfe, em Rio Preto, está construindo uma clínica em Urupês, onde pretende se lançar candidato a prefeito e foi demitido a bem do serviço público por usar do cargo para favorecimento próprio.
GOLPE DO TRATOR
Segundo os autos do processo judicial de ressarcimento por danos morais e materiais movido por produtor rural e empresário de Novo Horizonte, Beto Cacciari arrendou sua propriedade entre o fim de 2013 e começo de 2014 para criar gado de corte.
Após alguns meses trabalhando na criação de bovinos, o médico concluiu que o negócio não era viável para ele e procurou o dono das terras para devolver o arrendamento.
Quando da devolução, o autor da ação aceitou comprar insumos, além de trator e demais pertences, pois o empresário continuaria com sua criação de corte. A vítima pagou R$ 70 mil à vista pelo trator, mas na hora do licenciamento solicitou o DUT ao médico e descobriu que o veículo estava alienado a uma administradora de consórcio.
“Resumindo, Beto Cacciari havia adquirido o bem por meio de consórcio com alienação fiduciária e havia vendido o veículo para o autor com pagamento à vista sem providenciar a quitação junto a operadora de consórcio, tudo sem a ciência do autor (da ação na Justiça)”.
Ainda segundo o processo, “na oportunidade, o requerido utilizou-se de algumas desculpas e afirmou que quitaria o veículo dentro de alguns dias e entregaria a carta de quitação ao autor, o que jamais ocorreu. Por outro lado, embora tenha sido enganado, o autor não estava experimentando um dano muito considerável, haja vista que estava utilizando do bem.
Ocorre que na data de 18/05/2016, o requerente foi surpreendido com a presença de um oficial de justiça que procedeu a busca e apreensão do trator, diante de todos os funcionários do autor, que é pessoa pública e conhecida na cidade por possuir uma rede de supermercados.
Com a busca e apreensão do trator, o autor descobriu que o requerido não havia quitado o consórcio e ainda havia parado de pagar as prestações, culminando na expropriação do bem por falta de pagamento conforme faz prova a documentação anexa, extraída da Carta Precatória nº 1001239- 42.2016.8.26.0396.
O requerido (Beto Cacciari) comprometeu-se a purgar a mora para que o trator fosse devolvido, bem porque haviam mais de 1.200 cabeças de gado no confinamento que necessitavam do trator para fazer girar o vagão e preparar a silagem que serve de alimento para o gado. Ante o impasse, o autor procedeu de acordo com o sugerido pelo próprio requerido, que solicitou que o autor alugasse outro trator para tratar do gado enquanto solucionava o problema da liberação do bem.
O autor então alugou o trator VALMET 68ID, pagando a importância de R$ 400,00 (quatrocentos reais) por dia, tudo para evitar um prejuízo ainda maior com a falta de alimentação do gado confinado. O requerido (Beto Cacciari) se comprometeu a pagar o aluguel do trator VALMET. Após alguns dias de negociação junto ao requerido e a própria administradora do consórcio, o requerido abandonou as tratativas e não mais atendeu ao autor e sequer purgou a mora junto a operadora do consórcio, deixando o requerido ‘a ver navios’ sem seu trator”.
A vítima, de acordo com a ação judicial, “adquiriu um novo trator para tratar do gado, porém até hoje não recebeu de volta o valor pago pelo trator adquirido do requerido e nem foi ressarcido do aluguel do trator VALMET, que foi provisoriamente locado para a medida de urgência”.
O produtor rural e empresário procurou pela Polícia Civil e denunciou a conduta do médico, conforme boletim de ocorrência anexo, haja vista que considera sua conduta como típica penal de estelionato.
Conforme o processo, “em decorrência deste incidente, o requerente experimentou situação constrangedora, angustiante, tendo sua moral abalada, face à efetivação da busca e apreensão de seu trator por falta de pagamento na frente de todos seus funcionários, sendo suficiente a ensejar danos morais, até porque, nada deve. Foi o requerido quem deu causa a expropriação do bem, porém foi o requerente quem experimento do dissabor de ver bem removido de sua posse, gerando comentários maliciosos, vergonha, etc…, sem dúvida, causou danos à imagem, à honra e ao bom nome do requerente. O requerente é empresário de renome na cidade, possuindo 3 supermercados e 1 restaurante, trata-se de pessoa pública e que almejava, inclusive, concorrer ao pleito eleitoral, destarte viu sua honra abalada e seu nome virou comentário negativo na cidade”.
DOCUMENTO FALSO
Em 2020, a delegacia de polícia de Urupês recebeu denúncia e abriu inquérito por atestado médico falso, desobediência e uso de documento falso. Após investigações, ficou comprovado que Beto Cacciari usou papel timbrado da Irmandade de Misericórdia de Urupês para emitir atestado médico em favor de um empresário de Rio Preto, de 57 anos, morador em um condomínio de luxo naquela cidade.
O suposto paciente, conforme o inquérito, procurou o médico em sua chácara para pegar o atestado e escapar de uma audiência judicial. O empresário, à época da investigação policial, respondia a quatro inquéritos e sete processos judiciais.
Beto Cacciari colocou como justificativa médica para o réu escapar da audiência na Justiça que ele apresentava diagnóstico de angina. Ao ser interrogado na polícia e no Judiciário alegou que conhecia o empresário rio-pretense e que ele lhe pediu o atestado “para encaixar uma consulta mais rápido” e que tinha “compromisso” sem detalhar qual.
O nome de um cardiologista foi usado pelo suposto paciente como tendo feito o atendimento após Cacciari. Mas a polícia descobriu que esse profissional estava em cirurgia no Hospital Domingos Adib Jatene, em Sorocaba, e que o empresário usando de má-fé pediu para uma funcionária dessa clínica que solicitasse exames pelo seu convênio médico com data retroativa, que batesse com a data do atestado de Cacciari.
O Ministério Público denunciou o empresário por dois crimes e Beto Cacciari por um.
OUTRO LADO A reportagem não localizou a defesa do médico até o fechamento desta matéria. Havendo manifestação do advogado ou de Beto Cacciari, o texto será atualizado.
REPORTAGEM – ENTRECIDADES